terça-feira, 1 de julho de 2014

23 - O QUE A PARAÍBA TEM EM COMUM COM A NORMANDIA?



(Esse texto foi publicado integralmente no jornal "A União", de 25 de dezembro de 2014).

A Normandia é uma região localizada no noroeste da França. Durante a Segunda Guerra Mundial(1939-1945) a região foi palco da Batalha da Normandia, em que diversas tropas Aliadas desembarcaram em diversas praias dessa região, a fim de combater a dominação da Alemanha Nazista. Na Normandia estão localizadas belas cidades como por exemplo, Le Havre, classificada como monumento mundial pela UNESCO, Rouen - com seu casario medieval e sua bela catedral, a cidade onde Joana D’Arc foi queimada, Lisieux - com a famosa Basílica de Santa Teresinha, Caen, Rennes, e o Monte São Michel, terceiro ponto turístico mais visitado da França, atrás da Torre Eiffel e do Castelo de Versailhes. A região também é conhecida como o berço do impressionismo, pois foi aqui que Claude Monet pintou, em 1872, o quadro Soleil Levant, que deu origem ao movimento impressionista.
Mas o que essa região tem em comum com a Paraíba? Respondo: uma cidade chamada Bayeux.
A Bayeux normanda é uma cidade de 13.700 habitantes, fundada no sec. I a.C, com muitas casas medievais e uma bela catedral em estilo gótico, construída no século XI. Possui vários museus, entre eles o Museu da Tapessaria, que contém um bordado de lã de 70 metros, datado de mil anos, que conta a história da conquista da Inglaterra pelo rei normando Guilherme, O Conquistador. Em uma das versões, o bordado é atribuído à rainha Matilda, esposa do rei Guilherme, e suas damas de companhia, que bordavam, aguardando o rei retornar de suas batalhas. Bayeux tem uma atmosfera deliciosa de cidade do interior da França, com ruas estreitas, muito limpas e tranquilas e a gente fica com uma enorme vontade de morar alí. Dista 226 Km de Paris (cerca de 2 horas de trem, que parte da Gare St. Lazare). Foi a primeira cidade a ser libertada do jugo nazista pelos aliados na Batalha da Normandia, após o “Dia D”, tornando-se uma cidade-hospital (nela foram instalados 7 hospitais para atender os feridos na guerra). Lá encontramos o cemitério britânico, onde foram enterrados mais de 4 mil soldados britânicos mortos na segunda guerra. Possui ainda um memorial dedicado aos jornalistas, correspondentes de guerra, onde constam os nomes de todos aqueles que foram mortos no exercício da profissão no mundo inteiro, até os dias atuais. Oferece ainda, desde 1994, o prêmio anual “ Bayeux-Calvados” durante a realização do Encontro Anual dos correspondentes de guerra que ocorre na cidade. A economia se baseia na indústria agro-alimentícia, agricultura e, principalmente, no turismo.
A Bayeux paraibana, localizada na região metropolitana de João Pessoa, capital da Paraíba, é um ponto de morada de cidadãos, em sua maioria, deslocados pela seca, que buscaram em centros urbanos mais desenvolvidos uma condição social mais digna. Seu território é constituído por 60% de manguezais e resquícios de mata atlântica, o que torna a exploração de caranguejos atividade econômico-cultural importante para a cidade. Tem uma população estimada em mais de 95.000 habitantes (dados do IBGE 2014) e ocupa 32 km² de área o que a torna o segundo município mais densamente povoado do estado da Paraíba. A cidade fica localizada a 7 km da capital, João Pessoa. Bayeux, que se chamava Barreiras, era um povoado, pertencente ao município de Santa Rita e, somente em 1944, ganhou o atual nome, por sugestão do jornalista Assis Chateaubriand, permanecendo com ele, após sua emancipação em 15 de dezembro de 1959. O nome Bayeux deveu-se a uma homenagem à primeira cidade francesa a ser libertada dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 2013, a Bayeux paraibana recebeu a visita de uma deputada francesa, que se interessou em conhecer a cidade homônima brasileira. Durante sua estadia, ela esteve reunida com o prefeito e membros do Poder legislativo municipal, tendo ainda visitado uma ONG do município, o Solar Joana de Ângelis, que atende a crianças carentes da comunidade Mário Andreaza. Na oportunidade, a deputada convidou uma delegação da cidade para participar em 2014 das comemorações dos 70 anos do desembarque dos aliados na Normandia. Fizeram parte da delegação, membros do legislativo municipal e da ONG. Os paraibanos participaram de várias cerimônias, no período de 4 a 8 de junho de 2014, onde estavam presentes várias autoridades mundiais, como a rainha Elizabete II, da Inglaterra, o presidente americano Barak Obama, o presidente francês Francois Hollande, o presidente russo Vladimir Putin, a chanceler alemã Angela Merkel, os primeiros ministros da Inglaterra, Canadá, entre outros. Muitos veteranos pertencentes às diversas nações aliadas também foram convidados para o evento. Vale salientar, que não havia nenhum representante do governo brasileiro presente, apenas a delegação paraibana e alguns poucos repórteres brasileiros radicados no sul e sudeste do País. Impossível descrever as emocionantes cerimônias em homenagem aos heróis vivos e mortos e a alegria do povo nas ruas saudando e agradecendo aos velhos soldados veteranos de guerra por sua luta pela liberdade da maioria das nações do mundo. As batalhas com todos os eventos permanecem vivos na memória daquele povo, e é transmitida de geração a geração, para que eles jamais esqueçam o que realmente acontece quando uma nação inteira enlouquece.
Infelizmente, os acontecimentos vividos e rememorados anualmente pela população da bela cidade da região da Normandia francesa são praticamente desconhecidos pela população da cidade de Bayeux paraibana que, com raras exceções, sabe o motivo de ter esse nome.
O que realmente esperamos, a partir das comemorações dos 55 anos de emancipação do município, comemorados nesse mês de dezembro de 2014, é que o interesse das autoridades da cidade francesa pela cidade homônima brasileira, desperte nos edis e em todos os dirigentes do município paraibano o interesse em difundir a história do nome da cidade junto à população e, principalmente, às crianças do município, para que elas possam tomar conhecimento e transmitir às futuras gerações, que o nome de sua cidade representa uma homenagem à valorosa população de uma outra cidade distante que lutou, sofreu, chorou e se sacrificou, permanecendo fiel aos sagrados valores da igualdade, liberdade e fraternidade, dando assim sua contribuição para que nós tivéssemos hoje paz no mundo.